terça-feira, 3 de dezembro de 2013

homofonia


O pior de tudo (muitos se enganam) não é perder um grande amor, não é ser traído ou nunca ter amado. O pior é a homofonia do amor.

Quando achamos que alguém pensa em nós e o amor passa a saber a amêndoa amarga ao descobrimos que afinal não passávamos apenas de uma, e só uma noz.

E o pior de tudo é quando nos agarramos a alguém como hera nas paredes de uma casa antiga e quando o sol se põe, tira-nos o presente, dá-nos o pretérito imperfeito, manda fora o agá e o nosso amor já era.

Parece até que me tiram o chão dos pés quando eu lhe digo palavras doces ao ouvido e ele com tanto carinho ouve, até ao dia em que cego, surdo e mudo por outra canção fica, e aquilo que havia, passou a houve.

Achamos nós, quando o amor é verdadeiro que cantamos a uma só voz o refrão do sentimento verdadeiro. E quando chega o momento decisivo, do eu passar a nós, eis que me surpreendes: tu passas a vós.

Primeiro fazem-nos sentir realeza, de dia rainha, há noite princesa. Românticos. Levam-nos a passear à vila, de coche ao paço. E, mal damos por ele, o azar vem e troca-nos o passo.


São para mais de cem os casos de homofonia que eu conheço, que começam com muitas juras e acabam sem jura nenhuma.


Já chega de homofonia no amor, vamos agora e já procurar a concordância no verbo amar.


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