O Orgulho nunca o deixou ser ninguém. Falava-lhe
sempre baixinho ao ouvido e dizia-lhe para se achar melhor do que todos os
outros. Mesmo no momento em que mais precisou da ajuda de alguém, o Orgulho
disse-lhe para não descer tão baixo e ignorar as mãos que o queriam acudir.
“Não peças nunca desculpas a ninguém!” lembrava-lhe vezes sem conta o Orgulho
com medo que ele deixasse de ser quem era e que perdesse assim a sua dignidade.
Em todas as situações pedia-lhe que não desse o braço a torcer, com pena de
passar por perdedor. Ele lá ia ouvindo os conselhos do Orgulho e a sua vida até
que não lhe corria mal… Até disso se podia orgulhar! Vivia sozinho, com aquele
amigo de sempre; não tinha família, não sabia o que era o amor, não tinha
trabalho e vivia para o ar. Era um Zé-ninguém-com-Orgulho. Chegou porém um dia
em que de tão orgulhoso que se tinha tornado achou não precisar mais daquele
seu único e fiel companheiro. Foi inchado de orgulho que lhe deu um pontapé
daqueles bem puxados atrás. Claro que o Orgulho não se ficou por ali e acabou
por lhe dar troco. De tão orgulhosos que ambos eram, ninguém quis sair perdedor
e dar por terminada a zanga. E por isso acabaram por morrer, não de pancada mas
do Síndrome de Orgulho Estupidamente Agudo.
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