Ainda me lembro do baloiço e do escorrega que
mandaste fazer para nós. As tuas mais que tudo. Fizeste-os na fábrica onde
tinhas tantos anos trabalhado e com o teu próprio suor. O baloiço era vermelho
e só dava para andarmos uma de cada vez. O escorrega era verde. Tínhamo-los na
nossa casa de férias ao pé da praia e foram muitos os dias que passámos a
brincar com eles. Peço-te desculpa por não me lembrar da exata ocasião em que
no-los deste. Não sei se foi em agosto pelos nossos aniversários ou se pelo
Natal ou noutro dia qualquer apenas por surpresa. Sei sim, que nos fizeste
muito felizes nesse dia e nos outros todos que se seguiram. Crescemos a
aprender a partilhar o baloiço. Descobrimos com o tempo que o baloiço servia
não só para baloiçar mas também para trepar e que por vezes podia até ser
perigoso. Deturpámos todas as formas naturais de andar de escorrega. Subíamo-lo
ao contrário, descíamos nele de cabeça para baixo, brincávamos em cima dele com
as nossas bonecas, enfim. São muitas as memórias que tenho à volta do baloiço e
do escorrega. No entanto, passados alguns anos, deixámos de brincar com o
baloiço e o escorrega e os nossos pais tiraram-nos do jardim. Já estavam ambos
bastante enferrujados mas essa decisão custou-me muito. Afinal, era como se
dois amigos se nos despedissem de nós por termos crescido e perdido
naturalmente o interesse por eles. Ao longo dos anos eles foram sendo o cenário
para imensas fotografias da nossa infância. Às vezes apareço eu sentada no
baloiço e a minha irmã pendurada ao meu lado. Outras vezes aparecem os nossos
pais, um de cada lado do baloiço e nós ao meio. Outras vezes aparecemos nós ao
vosso colo, teu e da avó, no baloiço. Passados mais alguns anos, tivemos de nos
despedir outra vez, mas desta vez de ti. Ficaste muito doente e foste embora. Porém,
eu sei avô que, onde quer que estejas agora, estás à nossa espera com o baloiço
e o escorrega perto de ti, pronto para brincar connosco, como sempre fizeste.
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