segunda-feira, 30 de setembro de 2013

É uma coisa boa, a Amizade


É uma coisa boa, a Amizade.

Geralmente, não se percebe bem quando começa. Nunca ouvi ninguém dizer: “Começámos a amizar no dia 15 de setembro.” Não. Aparece de forma mais ou menos natural com o passar do tempo e com a proximidade e cumplicidade que duas pessoas vão ganhando. É de dia para dia que se ganha e constrói uma amizade.

E a amizade não precisa de grandes declarações ou cartas, não precisa sequer de ser platónica ou proibida. Ninguém dá flores ou leva alguém a jantar a um sítio caro para ganhar a sua amizade. Não se esta quiser ser sincera. A amizade alimenta-se de gestos simples e de palavras certas no momento em que mais se precisa. A amizade prefere muitas vezes um abraço às mãos dadas e tantas, mas tantas vezes um ombro a um beijo.

E nem sempre é um sentimento claro. A verdade é que só nos apercebemos dela muitas vezes quando não estamos à espera. E noutros momentos quando já estávamos a contar com ela, quando já a dávamos por certa é que ela parece que não está e escapa-se-nos por entre os dedos como uma brisa de vento que não se segura.

Mas a amizade traz-nos mais alegrias que tristezas. Traz-nos muitos momentos bem passados. Traz-nos muitas memórias que levamos até ao nosso último pensamento e traz-nos acima de tudo a vida. É quando rimos que nos sentimos vivos. Que nos libertamos de nós próprios. Que deixamos a nossa máscara dura, de ferro, cair para dar lugar à surpresa e à gargalhada com o outro.

E um amigo perdoa sempre um amigo, “porque se fosse comigo eu sei que farias o mesmo”. “Eu perdoo-te porque a nossa amizade é mais forte do que isso”. É outra verdade. A amizade é forte. Tão forte que não acaba nem mesmo enfraquece quando as pessoas estão fisicamente longe umas das outras. Faz-me até acreditar que existe algo acima de nós próprios, mais poderoso que algum outro ser que mantém os laços de amizade fortalecidos mesmo após anos e anos sem falar.

A mim parece-me que a Lua está de alguma forma comprometida neste caso. Parece-me suspeito que quando olho para ela me lembre sempre dos meus amigos, sabendo que eles também poderão estar naquele preciso momento a olhar para a Lua ou pelo menos a ser contemplados por ela.

E há ainda outra verdade maravilhosa. É que podemos ter quantas amizades nós quisermos. Não precisamos de nos sentir culpados por ter mais do que um amigo. Na verdade, as amizades também não se contam pelos dedos mas pela quantidade de vezes que pensamos no outro antes de pensarmos em nós mesmos. Não é quantificável. Na realidade, é uma das formas de pormos à prova uma verdadeira amizade. Aquele que nos cobra por ter outras amizades além da sua, não é um verdadeiro amigo. Não deseja da mesma forma que nós, a nossa felicidade.

E a amizade é ainda preciosa noutro aspeto. É que os amigos não precisam de caminhar os dois na mesma direção. Não precisam sequer de estar no mesmo barco para seguirem o mesmo caminho. Para se entenderem, no campo da amizade, os amigos só precisam de ter tempo um para o outro, para se ouvirem. Mas ouvir não é apenas estar calado enquanto o outro fala. Não. Isso já sai da fronteira da amizade outra vez. Para se ser amigo de alguém, tem de se escutar de verdade, com os olhos, com os ouvidos e com o coração. Eu sei que tenho um amigo de verdade quando ele termina as frases que eu comecei e quando até nos meus silêncios ele sabe o que eu estou dizer.

Depois, as pessoas têm necessidade de materializar a amizade de alguma forma. Há pessoas que oferecem presentes umas às outras. Algumas tiram fotografias dos momentos que passam juntas. Outras fazem vídeos para mais tarde poderem recordar. Há até quem guarde bilhetes de cinema ou de espetáculos vistos em conjunto. E outros há, que escrevem nos seus diários as formas como a amizade se revelou naquele dia especial. Além disso, há as músicas que acabam por eternizar aquela noite no bar ou aquele cheiro a crepes do dia em que fomos beber café.

A amizade nunca se esquece mas, mesmo assim, as pessoas têm necessidade de a manter segura no campo dos sentimentos como se fosse uma daquelas pedrinhas que mais brilha na praia e que nós queremos guardar para sempre numa garrafinha com areia.

Poderia ficar aqui uma eternidade se continuasse a escrever sobre a amizade mas não me seria dado tempo suficiente para o fazer. O melhor será continuar a tê-la na minha vida.

- Amizade, queres ser minha amiga?

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