terça-feira, 29 de outubro de 2013

inês


É uma menina e chama-se Inês mas não mora na porta trinta e três e só se lhe for pedido é que fala, desenrascada, Francês. É uma menina morena de cabelos escuros e esguia. Mas a sua sombra não é fria, aquece o mosaico do quintal onde brinca. Veste calção de ganga curto já gasto pelas brincadeiras e camisola branca de manga cava suja de amoras que acabou de apanhar para comer. Passa as tardes a brincar com as formigas. Com o dedo, com pedrinhas e com pauzinhos cria obstáculos ao seu caminho para ver o que fazem. Fica a admirá-las, curiosa, deitada de braços cruzados a carregarem corajosas migalhas de pão enormes. Várias vezes cai na tentação de pôr uma formiga à boca para provar o amargo sabor do trabalho. É uma criança feliz. Tem a certeza de passar todos os anos o seu dia de aniversário na praia com os outros meninos da sua idade. Na areia molhada e com a pouca minúcia que as suas mãos ainda têm, constroem juntos um bolo de aniversário para ela. Enfeitam-no com algas e restos de conchas partidas. Ela sopra sempre com a maior força que tem enquanto na sua cabeça pairam desejos de um futuro para sempre feliz.

2 comentários:

  1. Lembro-me de ser a Inês: curiosa, inocente, crente que a felicidade das coisas simples seria para sempre. Depois cresci... :)

    ResponderEliminar
  2. Mas há coisas que devemos tentar manter na nossa vida como nos dias da nossa infância: a curiosidade, a espontaneidade, ... a estupefação com que olhamos as coisas pela primeira vez. Eu acho que cresceste muito bem. ;)

    ResponderEliminar