quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O que tu queres, não o queiras


Tu queres inventar o que ainda não foi inventado. Queres ser o primeiro a ter a ideia. Aquilo que mais desejas é descobrir o que ainda nem se sabe que existe. Tu queres ter ideias luminosas e pensamentos nunca antes falados. Tu és aquele que sonha e que ambiciona ser o criador. Tu queres ser Deus.

Tu queres ser revolucionário mas esqueceste que o importante já foi inventado. O que tu queres a mim já não me encanta. O que tu queres, a mim já não me fascina. Gosto do teu lado sonhador mas isso já não me chega. Inventar o quê de novo? Já tanto foi modificado. Já tanto foi experimentado. Já tanta pureza foi sujeita a transformações. Basta!

Não queiras criar. Não queiras ser vanguardista. O necessário a ser inventado, já o foi. Quereres ir além do que já foi inventado é um sortilégio. Disponibiliza antes o teu tempo para cuidar do que já está inventado. Valoriza a pureza das coisas que estão à tua volta. Aprende antes a estimar as emoções verdadeiras. Não cinjas o teu olhar apenas ao que te aparece à frente. Aprecia as boas energias que te enviam. Admira o importante que já foi inventado com a ajuda de pinturas, esculturas, aromas e sons que ficam no ouvido. Como se fosses uma criança, deslumbra-te com o que está à tua volta. Elas todos os dias valorizam as coisas importantes à sua maneira. Não desprezes nunca aquele que repudia o novo ao invés do genuíno. Não troques o importante que já foi inventado pelo novo que nem se consegue bem definir. Procura tu também ser autêntico em vez de te vestires artificial. Não queiras ter ideias que nunca ninguém ousou ter. Isso não fará de ti, comparando com os outros, um ser mais especial. Sê tu mesmo, sem tirar nem pôr, estupidamente normal.

 

E apesar de tudo, eu lá no fundo sei.

Há-de chegar o dia em que tu inventas o mundo e eu já cá não estarei. E, no entanto, que peso tem este texto que eu própria inventei?
 
 

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