É
uma menina e chama-se Inês mas não mora na porta trinta e três e só se lhe for
pedido é que fala, desenrascada, Francês. É uma menina morena de cabelos
escuros e esguia. Mas a sua sombra não é fria, aquece o mosaico do quintal onde
brinca. Veste calção de ganga curto já gasto pelas brincadeiras e camisola
branca de manga cava suja de amoras que acabou de apanhar para comer. Passa as
tardes a brincar com as formigas. Com o dedo, com pedrinhas e com pauzinhos
cria obstáculos ao seu caminho para ver o que fazem. Fica a admirá-las,
curiosa, deitada de braços cruzados a carregarem corajosas migalhas de pão enormes.
Várias vezes cai na tentação de pôr uma formiga à boca para provar o amargo
sabor do trabalho. É uma criança feliz. Tem a certeza de passar todos os anos o
seu dia de aniversário na praia com os outros meninos da sua idade. Na areia
molhada e com a pouca minúcia que as suas mãos ainda têm, constroem juntos um
bolo de aniversário para ela. Enfeitam-no com algas e restos de conchas
partidas. Ela sopra sempre com a maior força que tem enquanto na sua cabeça pairam
desejos de um futuro para sempre feliz.
Lembro-me de ser a Inês: curiosa, inocente, crente que a felicidade das coisas simples seria para sempre. Depois cresci... :)
ResponderEliminarMas há coisas que devemos tentar manter na nossa vida como nos dias da nossa infância: a curiosidade, a espontaneidade, ... a estupefação com que olhamos as coisas pela primeira vez. Eu acho que cresceste muito bem. ;)
ResponderEliminar